Olá queridos alunos!
Vocês acham que o futebol é um esporte exclusivamente para homens?
Claro que não, não é mesmo?
Mas o preconceito contra a presença e a prática feminina no futebol, historicamente sempre foi muito
grande, e infelizmente até hoje, na nossa sociedade nos deparamos com falas preconceituosas e machistas, quando são as mulheres que vestem a chuteira!
A origem deste “pré-conceito” foi potencializada com uma lei, que proibia a prática do futebol por mulheres na década de 40.
Hoje vamos analisar esta lei e compreender como ela ajudou na construção de um imaginário que corrobora até hoje para que o futebol seja pensado como um esporte “apenas para homens”.
Leia a reportagem abaixo com muita atenção:
“Há 40 anos, mulheres ainda eram proibidas de jogar futebol no Brasil”
considerado, por decreto, uma prática inapropriada para mulheres.
Figura 1: "Pé de mulher não foi feito para se meter em shooteiras", diz manchete de jornal de 1941, ano em que decreto proibindo futebol feminino foi assinado no Brasil.
Assinado por Getúlio Vargas em 14 de abril de 1941, durante a ditadura do Estado Novo, o artigo 54 do decreto-lei 3.199, afirmava que ”às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”.
“Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua
natureza”.
Trecho do artigo 54 do Decreto-lei 3.199, assinado pelo presidente Getúlio Vargas, em 14 de abril de 1941. Com o argumento de que a prática feria a chamada “natureza feminina”, Vargas autorizou a proibição que, de 1941 até 1979, eliminou qualquer chance de atletas mulheres se profissionalizarem na modalidade, além de criminalizar o esporte para elas.
′′É reiterado na década de 1960 a ideia de que essa„natureza feminina‟ é ser mãe. Isso é muito forte no discurso do Vargas: essa ideia da mulher como alguém que deve cuidar da família, que deve gerar os „filhos fortes da nação‟”, explica a historiadora Giovana Capucim e Silva, autora do livro Mulheres Impedidas: A proibição do futebol feminino na imprensa de São Paulo.
Figura 2: ARQUIVO NACIONAL/MUSEU DO FUTEBOL
A historiadora explica que o decreto de Vargas não especificava quais esportes eram proibidos para as
mulheres. Porém, o futebol ― já bastante popular no Brasil nas décadas de 30 e 40 ― foi lido como um espaço masculino por ser considerado de contato e violento, algo que não era aceito para uma mulher.
“As mulheres são associadas com o que é belo, feminino, maternal, delicado. E nenhum desses adjetivos tem a ver com esporte”, diz Silva. “O ideal que se tem de esporte, de atleta, e o ideal que se tem de mulher são ideais que se confrontam, que não se encaixam de modo algum.”
Mas Silva constatou em sua pesquisa que, mesmo com a proibição do esporte no País, as mulheres nunca pararam de jogar futebol. Segundo a historiadora da USP, elas sempre desafiaram a “essência feminina” idealizada por Vargas.
“Elas jogavam, principalmente, em campos de várzea e em locais em que o Estado não chega, como as periferias. Isso é muito importante destacar. Essa resistência estatal, na verdade, era o menor obstáculo que
elas encontravam”, aponta a historiadora, que avalia que o decreto tinha uma função moral. “Olhares de vizinhos ou de familiares, por exemplo, pesavam muito mais.”
A pesquisadora afirma que, à época, no interior de estados como São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, mulheres tinham o costume de se reunir de forma clandestina para jogar, até o momento em que alguém, incomodado com a mobilização, evocava o decreto e o jogo terminava.
"O futebol feminino vai acabar": Jornais da época destacavam a proibição.
′′É como se você, por quase 40 anos, construísse uma ideia, uma cultura, uma proibição moral. E a gente aculturou essa ideia”, complementa Aira Bonfim, historiadora e pesquisadora, responsável pela
implementação do Centro de Referência do Futebol Brasileiro, do Museu do Futebol, em São Paulo. Até 1964, ano em que se instaura a ditadura militar no Brasil, as mulheres jogavam futebol sob esta pressão moralista e reguladora. Porém, em 1965, o governo militar tornou a proibição expressa e incluiu nominalmente esportes considerados inadequados para mulheres na legislação.Entre eles: futebol, polo aquático, halterofilismo e beisebol. Nesta época de proibição mais severa, há registros em jornais de mulheres que foram presas, segundo as pesquisadoras. A proibição se justificava com o argumento de que práticas de esportes de contato não era compatíveis com o corpo da mulher.
“Começaram a surgir argumentos médicos para comprovar essa ideia, inclusive dizendo que as
mulheres não poderiam jogar por que poderiam levar cotoveladas no útero ou nos seios, que ficariam
inférteis e não poderiam amamentar”.
“Elas eram ridicularizadas, diminuídas. Dentro dessa lógica, começaram a surgir argumentos médicos para comprovar essa ideia, inclusive dizendo que as mulheres não poderiam jogar por que poderiam levar cotoveladas no útero ou nos seios, que ficariam inférteis e não poderiam amamentar”, conta Bonfim. Em outros países, como Inglaterra e Alemanha, também houve proibições até a década de 70, quando foi criada a Federação Internacional do Futebol Feminino.
Mais tarde, no Brasil, após quatro décadas de impedimento, em 1979, o decreto foi revogado. Neste período, a abertura política começava com o encaminhamento da ditadura militar para seu fim. Mas não houve um desenvolvimento imediato para o futebol feminino no País.
“O nosso „legado da Copa‟ é o legado do decreto”, ironiza Bonfim, ao classificar que, ainda hoje, existem efeitos práticos da proibição que impedem o desenvolvimento do futebol feminino no Brasil, como o apagamento histórico. “Existem mulheres que ousaram em vários âmbitos sociais, e o futebol é só mais um deles. A eficiência dele [do decreto] é nesse nível: de uma efetiva naturalização de que o futebol não é um esporte próprio para as mulheres e de que nunca foi, de que não temos História. Poucos sabem sobre a proibição.” Segundo Bonfim, antes da proibição – por volta da década de 30 – há relatos sobre a presença feminina nos campos e nas arquibancadas, onde grupos de mulheres também se organizavam para torcerem juntas. “Já era uma ousadia usar sua melhor roupa para assistir a uma partida pública.”
Da resistência à proibição até a Copa do Mundo
Figura 3: O Estádio Foshan, na China, foi palco para a Copa do Mundo de Futebol Feminino Experimental da FIFA em 1988. Brasil venceu
Holanda por 2 x 1.
Mesmo com o fim da proibição, a regulamentação da modalidade no Brasil só foi realizada em 1983 ― graças à mobilização das próprias jogadoras. Este novo regulamento, ainda assim, segundo as pesquisadoras ouvidas pelo HuffPost Brasil, contava com determinações equivocadas.
As partidas tinham duração de 70 minutos, com intervalo de 15 a 20 minutos. Além disso, existia a
proibição de cobrança de ingresso para os jogos e um impedimento às jogadoras de trocar camisas com as adversárias após as partidas ― algo comum aos times masculinos em todos os campeonatos.
Enquanto a primeira seleção masculina foi criada em 1914, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) só montou um time feminino mais de 70 anos depois, em 1988. Naquele mesmo ano, o time que tinha nomes como Sissi, Pretinha e Michael Jackson participou de uma Copa “experimental” da Fifa. Realizado na China, o campeonato serviu de exemplo para a criação da Copa do Mundo Feminina, que teve sua primeira edição em 1991. Em sua 8a edição em 2019, o torneio foi ignorado durante muitos anos não só por emissoras de televisão abertas e fechadas no Brasil, mas pelo público em geral. “Copa mais importante, que eu considero histórica, é a de 1991. Diante de toda a luta das mulheres, nesse ano você já tem muito mais projeção [do esporte] oferecida pela televisão graças à TV Manchete, graças à TV Bandeirantes”, aponta Bonfim. A historiadora é crítica ao momento técnico atual da seleção, mas avalia que o time “nunca teve um ano tão bom” quanto 2019 em termos de projeção. Neste ano, o Mundial também contará com um número maior de seleções nacionais, o que pode significar um crescimento do futebol feminino no mundo nas quase três décadas passadas desde a primeira Copa.
Primavera feminista’ também no futebol
Figura 4: Aos 41 anos, Formiga completará 24 vestindo a camisa da seleção.
As especialistas avaliam que os mais de 30 anos de proibição deixaram resquícios e reflexos negativos no esporte brasileiro até hoje, como o pouco incentivo à modalidade feminina, condições de trabalho piores e a falta de patrocinadores. Mas pontuam que, desde 2015, a seleção é beneficiada pela “Primavera Feminista”.
“Acho que o grande erro que a gente às vezes comete é sempre colocar lado a lado com o masculino”, aponta Bonfim. “O que é pensar em igualdade? É ganhar igual ao Neymar? Não necessariamente. Hoje elas têm lutado muito para simplesmente conseguir um cenário digno de trabalho”, aponta.
Até agora, o melhor resultado da seleção brasileira na história das Copas foi em 2007, na China - quando perdeu na final para a Alemanha, que já tem dois títulos mundiais. O time atualmente soma 10 derrotas nos últimos jogos.
“Acho que esse movimento de mulheres, que querem contar histórias de mulheres, é muito frutífero para a modalidade de futebol feminino”, diz Bonfim, ao destacar também a iniciativa da ONU de convidar a jogadora Marta para ser uma das Embaixadoras da Boa Vontade na organização (..)
Reportagem de 19/11/19, disponível no link: CLIQUE AQUI
Na atividade de hoje, vocês responderão as questões disponíveis neste link: CLIQUE AQUI
Lembre-se, que para esta atividade, você também utilizará todo o conhecimento construído através das reflexões sobre gênero, que estão sendo debatidas nas atividades dos professores de Língua Inglesa, Língua Portuguesa e Artes.
Quaisquer dúvidas, deixar nos comentários abaixo.
Abraços,
Profa Raysa.
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